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Nos trilhos do Bataclan


Eny Cezarino, aos 23 anos, tornara-se uma das meninas da Pensão Imperial, bordel localizado no cruzamento entre as ruas Rio Branco e Costa Ribeiro, a famigerada zona do meretrício de Bauru. Foi lá que, no início da década de 1940, a jovem evoluiu na profissão até se tornar a dona do estabelecimento.

 

Antes de chegar ao trevo que seria tratado sem tropeços por seu nome, Eny já havia conquistado prestígio em cada canto atravessado pelos trilhos das ferrovias que cruzavam a cidade. Sua fama fora pulverizada nas terras por onde os passageiros dos trens se embrenhavam.

 

Afastada da zona do meretrício por plástica social, Eny encontrou no jardim das Orquídeas, a seis quilômetros do centro de Bauru, o solo em que ergueria seu pequeno grande império: um bordel formado por cinco mil metros quadrados de área construída – quarenta quartos com camas redondas, bar e restaurante, a maior piscina particular da cidade – e sete mil metros quadrados de jardins cercados por muros.

 

Sobre as meninas de Eny repousavam sempre a discrição e os bons modos. Se no início era preciso buscá-las, em pouco tempo apareciam espontaneamente nas portas do bordel. Antes de se integrarem ao grupo, vestiam-se de luxo e graça.

 

As pompas do maior bordel brasileiro justificava a audácia dos homens que, bem afortunados, sujeitavam-se a emplastar as rodas de seus carros de lama, proveniente da pequena estrada de terra que levava à Casa da Eny. E não eram poucos os visitantes assíduos. Entre eles, não era raro estarem políticos de peso, que chegavam a reservar o local para eventos particulares.

 

Iluminada por um grande letreiro com a inscrição 'Restaurante Eny's Bar', a casa transformou de vez a imagem do “inferno de lama e de apitos de trem”, como fora descrita a cidade de Bauru em publicação de meados de 1980. Se antes era apenas “chão de passagem”, por onde milhares de viajantes empoleiravam-se obrigatoriamente, Bauru tornou-se opção. Ir à cidade e não conhecer o bar de Eny configurava um trajeto imperfeito.

 

O tempo, sempre impiedoso, trouxe consigo a modernização dos costumes. O surgimento desordenado de motéis e a prostituição nas ruas fez com que o ramo de negócios de Eny se tornasse anacrônico. Em 1983, o antes movimentadíssimo Eny's Bar e Restaurante teve de fechar suas portas. O terreno foi então vendido ao empresário Dolírio Silva.

 

Na atual propriedade privada, restam apenas as lembranças do que foi o maior prostíbulo do país. Há quem diga que o clima do bordel assemelhava-se ao de Bataclan, imortalizado nos escritos de Jorge Amado. Por fora, em Ilhéus ou Bauru, era claro o contraste entre o respirar contínuo da sociedade e a prostituição. Por dentro, coronéis e filós, intelectuais e jornalistas discutiam política, fechavam negócios e se engraçavam com belas mulheres.

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